A Primavera trazia-lhe sempre um luto: o dos pássaros caídos do ninho. Levava-os para casa e dava-lhes de comer. Mastigava o arroz e depois ficava a sentir o bico do pequeno pássaro a abrir-se e a fechar sobre a sua língua a tirar os pedaços desfeitos. Apertado entre os seus dedos de menina o corpo de pássaro estremecia.
A caixa de sapatos furada que a avó lhe dava para guardar o bicho era quase sempre o cenário da morte dele. Também os houve que morreram na boca do gato da vizinha. Ela, que não sabia nada sobre o instinto da caça do felino, perseguia o bicho, enfurecida com a sua crueldade. Recuperava os corpos sem vida. Borrifava-os com água para os reanimar. Seguia-se o enterro.
A muitos metros da velha azinheira avistavam-se os cravos da índia e as ervilhas de cheiro do jardim da avó. Enchia os espaços largos entre as raízes com as velhas articulações fora da terra com eles. O seu cemitério de pássaros fazia rir os adultos.
quinta-feira, novembro 23, 2006
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1 comentário:
Gosto tanto dos teus fragmentos! :-)***
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