sexta-feira, junho 01, 2007
Lady Chatterley
Lady Chatterley vive retirada numa casa no campo com o marido, o qual ficou paraplégico e impotente após a I Guerra Mundial. O homem encerrou-se num silêncio amargurado, que só interrompe nos encontros com os camaradas, mantendo um registo seco com a mulher, atenta e disponível. Uma tristeza profunda que toma conta dela pode, no entender do médico, ter consequências funestas. Inicia então uma série de passeios pelo campo que lhe retemperam o ânimo mas é a relação com o guarda-caça, de quem se torna amante, que alarga os seus horizontes e é geradora da ruptura com as convenções sociais.
A realizadora francesa Pascale Ferran foi a grande triunfadora da edição deste ano dos Césares (melhor filme e melhor intérprete feminina, entre outras distinções), com a adaptação cinematográfica da segunda e menos conhecida das três versões do conto erótico de D.H. Lawrence, “O Amante de Lady Chatterley”. Os seus trunfos foram um desempenho notável de Marina Hands – que, com subtileza, dá alma à transformação que se opera em Lady Chatterley preservando sempre a ternura e uma certa inocência -, o talento de Jean-Louis Coullo’ch e, sobretudo, na primeira hora do filme, sensibilidade para enquadrar o retrato intímo da mulher.
É enquanto abordagem da descoberta da sensualidade e do erotismo por Lady Chatterley que a obra se impõe. Ferran fixa detalhes que vão adensando a personagem principal e criam um crescendo na fixação do despertar dos seus sentidos. O movimento inicial é o da relação sensorial dela com a natureza, no campos circunzinhos à casa. A visão do tronco nu do guarda-caça impõe-se como a revelação do desejo, abafado primeiro, e solto, sem culpa e com alegria, quando Parkin reclama a sua satisfação. Uma outra visão, a de uma mulher a amamentar, impõe outra revelação: a do desejo de maternidade. Entre revelações, a descoberta do prazer pela mulher é bem sustentada por Hands e bem enquadrada por Ferran, no registo de D.W. Lawrence da integração da natureza como libertadora. A obra fragiliza-se, no entanto, após este movimento inicial. Há as personagens secundárias que não ganham densidade e são meras facilitadoras e as sequências que não acrescentam nada à tensão dramática além de um fundo social – o da luta dos mineiros por melhores condições de trabalho – incipiente. Imersiva quase sempre, a obra perde, porém, grande parte do fôlego arrastando o desfecho.
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