segunda-feira, janeiro 21, 2008

Quatro meses, três semanas e dois dias

Estreou esta semana em Portugal um dos filmes mais interessantes dos últimos anos sobre a mulher e a sua circunstância. Trata-se de um filme sobre uma jovem que quer abortar na Roménia dos últimos anos do comunismo. Trata-se sobretudo de um filme sobre a comunhão de uma amiga, que partilha com aquela que quer abortar uma circunstãncia - um destino - comum. É a circunstância de muitas mulheres em todos os sítios do mundo.

Mas este não é um filme sobre o aborto. É antes uma obra sobre a fragilidade - uma fragilidade que perdura - da situação das mulheres no mundo. Uma fragilidade que é tanto maior quanto menor é a liberdade possível na sua circunstância. Nos países em guerra, nos países em que politicamente as mulheres não existem ou continuam a ser cidadãs de segunda, os problemas inerentes à sua condição de ser mulher agravam-se.
Belíssimo filme este de Christian Mungiu. Belíssimas interpretações - a de Anamaria Marinca sobretudo. E que extraordinária história de cumplicidade...
Porque o mais perturbador e interessante neste filme é fixar o drama acompanhando sobretudo os movimentos da amiga, Otilia. Dá outra dimensão à consciência sobre a situação da mulher. Não é uma visão de dentro embora seja implicada. É a visão e a sensibilidade de quem não se exime à situação porque poderia ser ela, poderia ser consigo. Esta compaixão - cada vez mais ausente das relações entre os homens e as mulheres - dá maior intensidade, universaliza de outro modo o drama. Não é aquela mulher mas todas as mulheres do mundo, diz-nos.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Mulher Cão - Paula Rego

A Voz Secreta das Mulheres Afegãs - O suicídio e o canto

"Ontem à noite estive com o meu amante:
uma noite de amor que não se repetirá
Como um guizo, com todas as minhas jóias,
tini em seus braços até ao fundo da noite"




"Dá-me a tua mão, amor, vamos para os campos
Para nos amarmos ou cairmos juntos apunhalados."



Até agora desconhecidos do mundo, os “landays” das mulheres afegãs (aparentemente gritos sem sentido), escondem afinal uma linguagem secreta feminina que serve para expressar discursos de ódio, amor, erotismo ou escárnio.
São vozes secretas proferidas à revelia e dirigidas aos homens e à cultura masculina dominante.
O landay é um pequeníssimo poema, normalmente de dois versos livres de nove e treze sílabas, sem rimas obrigatórias.


Gift



I speak out of the deep of night
out of the deep of darkness
and out of the deep of night I speak.
if you come to my house, friend
bring me a lamp and a window I can look through
at the crowd in the happy alley.
Forugh Farrokhzad


Translated by Ahmad Karimi Hakkkak
The Persian Book Review VOLUME III, NO 12 Page 1337

The Sin by Forugh Farrokhzad

Na poesia desta poeta iraniana encontro sempre a vida a pulsar. Encontro sempre a tradução para estados de alma e para esta condição, de ser mulher.